Tecnologia x Alegria

Lembro-me muito bem da minha vida em relação a video-games. Até porque 90% da mesma era por conta de jogos eletrônicos. Sempre fui meio franzino e apanhava fácil dos amiguinhos na rua, além de ser sempre carta-branca nas brincadeiras. Me restava brincar em casa. Não que isso não fosse divertido, não que faria diferente, enfim: era tudo que eu tinha, então era a melhor coisa do mundo. E era mesmo.

Minha única frustração sempre foi ter as coisas atrasadas, ou seja, depois de que saía de moda. Sempre peguei as roupas do meu irmão, quando ele crescia. Ah, era até legal usar conga dos trapalhões com a cara do Zacarias e do Mussum depois que estes já tinham morrido há uns 2 anos. Mas servia e era confortável pra correr dos meninos que queriam me bater ou roubar meu lanche.

Com video-games, era exatamente igual: tive Atari quando a moda era Master System. Tive Master System quando a moda era Mega-Drive. Nem Mega-Drive tive. Quando a moda era o Super Nintendo, eu tava lá, firme e forte jogando Alex Kidd in The Miracle World no Master, feliz da vida, fingindo que era Sonic. Fui direto pro Super Nintendo, quando a moda era PlayStation 1 e, finalmente, comprei um PlayStation 1 uns 3 dias antes de ficar sabendo que a galera radical tava detonando (termos usados na época) no Play 2. Coincidência ou não, tenho agora um notebook que roda jogos de do Pê S2 logo quando surgiram Play 3 e esse tal de Nintendo Wii.

Esse último é totalmente realista e exige esforço físico semelhante ao que você faria pra fazer algo de verdade: No jogo de tênis, você fica em pé e o controle vira uma raquete. Tem um jogo de ginástica que você tem que seguir um monte de exercícios e, se fugir da intensidade, técnica e ritmo dos mesmos, o video-game acusa.

Para isso, o Nintendo Wii se utiliza de 4937,4938²²³³ sensores de presença e movimento, o que deixam a coisa mais realista. É tão realista, mas tão realista, que… Perdeu a graça.

Sim. A graça do video-game nunca foi e nunca será a proximidade da verdade, do movimento real. Legal mesmo era ver a cabeça quadrada do Donkey Kong correndo atrás de uma mancha amarela quadrada (banana) pela tela 2D. Bom mesmo era o velho Ryu ou o Ken soltando uma seqüência de Haduguem, Cat Cat Fruugem e Hoooolyugem! O resto é piada.

vc vai atravessa o campim verde de mato pisädo e vai te um corvo, marrom esse corvo vai te joga veneno e vc abaixa essa cabeca de aluno da apae ai e solta o brasselete nele, dai vc ja pode i pro laguim~~ ALEX KIDD

Alguém ousa afirmar que se divertiu mais com um jogo de futebol do que com o Super Star Soccer ou com a versão paraguaiamente brasileira do Ronaldinho Campeonato Brasileiro 96 (Rrronaldinio Campionato Bracileño Nuventa i Ses)? O Winning Eleven, Fifa, até nos entertem. Mas você só socou aquele seu vizinho ou seu primo babaca quando perdeu pra ele na plataforma Super Nintendo. No PlayStation você pode ter esboçado, mas não socou. (Eu era o primo socado, no caso).

E também foi só com máquinas antecessoras do Play 1 que você ouvia da sua mãe que video-games estragavam o som da televisão, e davam exemplos, como: “ah, tá vendo aquela tv que tá com o som ruim e a imagem horrível? pois é, ficou assim depois que ligaram o Atari nele”. Só com video-games antigos nós éramos obrigados a esperar, no mínimo 1 hora para poder jogar depois de alguma refeição, pois, segundo nossos pais, jogar video-game depois de almoçar fazia mal. E, sem nenhuma sombra de dúvida, video-games mais antigos, irrefutavelmente, causavam EPILEPSIA.

É, isso não era qualquer coisa! Era um barato ler avisos no manual de instruções do seu Sega Tectoy Master System III que “o video-game, se utilizado de forma incorreta e imprudente, após muitas horas de uso, a pessoa pode apresentar sinais de epilepsia, ver vultos inexistentes e perder a coordenação de movimentos, fazendo com que ela pisque involuntariamente e faça movimentos bruscos involuntários”. Tinha coisa melhor que isso? Era um misto de medo e de desafio. Me dava um certo calafrio, principalmente quando ia jogar Mortal Kombat. Vultos, epilepsia, movimentos estranhos? Meu Deus, é tudo que tem no Mortal Kombat! Praticamente um Fatality. Confesso que, por ficar cismado, acabava sentido tais sintomas, mesmo que eles não existissem. Afinal, video-game era algo mitológico.

Se fizermos uma lista, tínhamos Bomber Man, Mickey, Alex Kidd, Sonic, Super Star Soccer, Donkey Kong 1, 2 e 3 (impossível não citar os 3), Top Gear, Mortal Kombat, Street Fighter, Bomber Man, Star Fox, Jogos de Verão, Jogos Olímpicos, enfim. Seriam linhas de jogos que poderiam ser citados, me ajudem a lembrar mais.

Donkey Kong – vulgo DONKONG. Genialidade ao unir recursos 3D com ação e elegância

Hoje, de tão real, perdeu a graça: se vou ter que pular, cair, fazer força, não é video-game. Uma das melhores coisas definitivamente está em você poder jogar sentado, com um copo de Coca e pipoca babada por perto, esticado no sofá, controlando o mundo apenas com as mãos, com pessoas a meio metro de você xingando e torcendo.

Já ficamos muito tempo em casa por falta de tempo ou oportunidade, para ainda trocarmos uma partida de futebol, tênis, vôlei, basquete ou alguma piscina pra fazermos força em casa. Tudo na sua hora: video-game de verdade, com gente normal, nunca impediu que tivéssemos vida social. Pelo contrário. Era com meus amigos de video-game com quem jogava bola e saía em outras horas.

Baixemos emuladores e sejamos felizes. Sejamos menos perfeccionistas, realistas. Se formos mais mal-feitos, mais quadrados, seremos certamente, mais interessantes e emocionantes.

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