Por um estatuto de defesa aos magros

Muito se fala do sofrimento que as pessoas obesas sofrem no dia-dia e a luta dos gordinhos por seus direitos. Nada mais saudável e louvável. Afinal, conviver com diferenças de aparência e com pessoas com necessidades diferentes das nossas faz com que as noções de democracia e humanismo sejam realmente aplicadas.

Antevejo que a próxima “categoria” a reivindicar seus direitos, também com toda razão, é a dos magros. Até então, os magros são “sortudos que podem comer qualquer coisa em qualquer quantidade a qualquer hora e não engordam”. Uns filhas da puta mesmo. Assim como eu. Mas também temos nossas dificuldades, abaixo listadas:

– Há poltronas exclusivas para obesos, com mais espaço, etc. Precisamos de poltronas para magros. Podem até ser menores que o normal, mas desde que haja um melhor sistema de amortecimento e almofadamento nas mesmas. Magros têm ossos mais em evidência. Você, pessoa esbelta ou gordinha, tem um certo conforto ao se apoiar sobre os braços, ou em cadeiras duras, ou em qualquer lugar. Até em cima de uma árvore consegue dormir. Nós, magros, sentimos o atrito concomitante dos ossos com superfícies lisas e seus movimentos. Dormir, então, com os joelhos encostados um no outro, é praticamente impossível.

– Desconto em rodízios e restaurantes do tipo “coma o quanto aguentar”. É simplesmente revoltante ver um fortinho na mesa ao lado comendo 5 torres de comida pagando o mesmo tanto do que quem come meio prato de bife.

– O mesmo vale para passagens de avião e ônibus. Temos menos peso, gastamos menos combustível.

– Um gordinho fazendo exercício tem perspectiva de ficar forte. Um magro na academia corre o risco de emagrecer mais ainda.

– Usar barba e cabelo grande, assim como roupas folgadas só piora a situação. Achamos que sunga é coisa de gente depravada mas, no fundo, é porque não podemos usar, para não ficarmos ridículos. Mentira, sunga e camiseta cavada é bem coisa de vileno, vamos concordar. Sunga de time de futebol, nem me fale. Jesus.

– Por que, para emagrecerem, os obesos têm SPA, vivendo dias de praticamente rei da Etiópia (todas as regalias e confortos possíveis, mas sem comida) com massagens, ofurôs, psicólogos, terapeutas, ar puro, ambientes luxuosos e voluptuosos, enquanto nós, magros temos somente o estímulo do “come direito, moleque”? Para engordarmos, devemos comer mais do que conseguimos, muitas vezes uma comida de origem duvidosa, no calor, no frio, a qualquer hora. E depois sairmos pra trabalhar de motoboy com a barriga mais cheia que festa beneficente da Cohab. Pra magros, tentar comer muito também é uma tortura. Merecemos também SPA, com mulhreres simpáticas (bonitas), carinhosas (bonitas), elegantes (bonitas) e com uma certo perfil submisso (bonitas) servindo comida, fazendo massagem, prometendo uma noite de amor caso comamos aquele prato de picanha mal-passada ou aquela tábua inteirinha de sushi, sem sobrar uma alga sequer.

– Alimentos para emagrecimento: coscarque, barbatana de tubarão, nutrishake Luciana Gimenez, refrigerante light e diet, adoçantes, balinhas dietéticas, chocolate diet e light, chás, sucos. Tudo tem sua versão light ou diet. Me diga UM produto versão hipercalórica? Eu tomaria fácil uma Coca-Cola com o dobro das calorias, um Big Mac bombado, uma pizza pra quem não quer perder peso. Vocês engordam com isso? Nós magros, nunca. Podemos passar 4 anos (4 anos é muito tempo!) comendo só Junkie Food que manteremos nossas formas. Poderemos até vir a óbito. Mas magrinhos, magrinhos.

– Também ouvimos piadas, como: “nossa, você tá de frente, pensei que tivesse de perfil, HEHE.”

Ficam aqui as minhas reivindicações por um mundo mais justo. E uma rodade de suco pra galera. Pros magros, uma rodada de Picanha mal passada e bolo de chocolate.