Festas Juninas

Existem combinações inesperadas que dão certo. Doce e salgado, amargo e azedo, bonito e feio, azul com verde, Chitãozinho e Xororó. E existem as inesperadas que, inexplicavelmente, as pessoas gostam. Aberrações como goiabada com queijo, queijo com açúcar, pamonha com queijo (sim, queijo não combina com praticamente nada no meu universo), passatempo recheada com pamonha, barra de cereal e brigadeiro, César Menotti e Fabiano.

Agora, junte muita terra – vermelha, irrequieta, ardida. Acrescente pessoas, muitas pessoas, andando, dançando sobre a mesma. Pessoas essas mal-vestidas. Nessa festa, tudo vale. As calças mal rasgadas, o bigode de canetinha preta, a camisa xadrez que você usava a 3 anos atrás, quando você era fã do Kurt Cobain, o cigarrinho de palha com uma liguinha plástica o enrolando em nada remetem à imagem do atual caipira que, certamente estará em sua chácara assistindo novela das 9 pela Sky, com uma Hilux na garagem. Na verdade, em nada lembra do caipira antigo ou pobre que, certamente tem o seu tipo de bom gosto e é feliz assim. Lá na fazenda.

Na decoração desse ritual quase tribal que fazemos em junho e chamamos de Festas Juninas, vale tudo: bandeirinhas de Folha de São Paulo, Estadão, Veja e Caras. Balão de tnt, palito do Kibon com recheio de lâmpada incandescente de 60w.

No som, não é diferente. Nas festas que têm um certo compromisso com a verossimilhança da coisa, você vai escutar 4, 5 horas da sanfona de MÁRIO ZAN enquanto as quadrilhas de cada série, separadamente, do jardim até o terceiro ano se mostram praticamente idênticas. É como dizer que a quadrilha do jardim é a do terceirão, só que com anões. Nos intervalos, nada de música caipira. Mas pra quem gosta de agromusic moderna, se deleitará ao som de Jorge e Matheus e outras duplas, a quem chamo carinhosamente de “os 45 irmãos gêmeos de Jorge e Matheus”. Mas não pasme se, em alguma dessas festividades da reciclagem não-sustentável, você escutar algum funk. Tá na moda, né.

A comida? Ah, a comida. Vamos aos seus nomes. Quando não parecem que saíram de uma sessão com o Jack, o estripador, como Pé-de-moleque, Maria-mole, Dedo-de-moça, Dedo-aberto, acusam o teor gastrônomico pelas denominações. Maçã do amor (gente??), Canjiquinha (um nome que devia ser acompanhado por “rs”, pensa como combina: “canjiquinha rs”. Enfim, pra quem gosta, parabéns.

As atividades também se estendem a:

-Pescaria: pesque um peixe e se divirta com um Apito, dois chicletes e uma língua de sogra, Carlinhos.
-Correio Elegante: não se engane com o nome. Não existe coisa mais brega do que mandar ou receber um correio elegante.
-Cadeia: definitivamente, está entre a lista de brincadeiras mais sem graças e inconvenientes que você pode fazer com alguém. Disputa a tapa com jogar pessoas na piscina, jogar ovo no aniversário de alguém ou cuspir na bebida de alguém.
-Leilão: pague uma fortuna para comer frango assado e dividir uma sidra com sua namorada.
-Pau de sebo: a maneira mais estúpida de conseguir 50 reais. Você consegue esse dinheiro como servente de pedreiro com menos esforço e menos hematomas.
-Fogueira: tem fogo. E as pessoas teimam em pular. Gente?
-Bombinhas, traques, buscapés, foguetes e adjacentes: estupidez detectada. Vontade de enfiar um foguete no cu de quem solta e acender. Um sonho ainda a ser realizado.

As festas juninas vêm fazendo cada vez mais sucesso à medida que a população se torna cada vez mais urbana. Se você gosta de ambiente rural, o que é absolutamente legítimo, vá a uma festa na fazenda. Uma festa junina não é nem caricatura de uma festa na roça. Ponto pra quem ficar em casa.

E pros que já foram 3 vezes na vida a uma fazenda e acham que já pode sair por aí subindo em árvore e mexendo com qualquer bixo que encontra pela frente, só uma coisa: Você pode tirar o homem de dentro da roça, mas NUNCA tira a roça de dentro do homem.

Boas festas a todos vocês!